Manejo Integrado de Pragas: O que é e quando utilizar.

por | 30 dez, 2020 | Agrotécnico

O manejo Integrado de Pragas, ou MIP , vem sendo o grande parceiro do produtor nas suas práticas de controle. Veja como utiliza-lo da melhor forma.

Entender sobre o as práticas de controle de pragas, é fundamental para realizar um bom planejamento e alcançar altas produtividades.

Principalmente quando conseguimos fazer esse controle com práticas menos nocivas ao ambiente. A estratégia de MIP, que possuem suas particularidades e alguns detalhes no manejo, pode ser peça chave para um bom controle.

Caso você ainda seja um estudante, com certeza isso vai ser útil no futuro para sua vida profissional, e no presente para suas notas. Se você é agrônomo ou produtor, esse conteúdo poderá lhe auxiliar na tomada de decisão. 

Por isso, confira agora o que separamos e entenda mais sobre Manejo Integrado de Pragas. Aproveite!

A importância do Manejo integrado de pragas

Apesar do uso de defensivos agrícolas para o controle de pragas a alta demanda pela contínua oferta de produtos de qualidade, trazem novos desafios, principalmente devido a crescente resistência de pragas as moléculas já presentes no mercado e a dificuldade em se descobrir novos compostos. Nesse sentido, o que se observa é um aumento no gasto de tempo, mão de obra e capital para obtenção de tais moléculas.

Outro fator limitante ao uso exclusivo de táticas químicas é a aceitabilidade. As altas exigências do mercado por um produto mais limpo, livre de resíduos químicos, pode gerar um decréscimo no consumo como visto em morango no início dos anos 2000 no estado de São Paulo. Devido à grande quantidade de agrotóxicos utilizados no decorrer do ciclo produtivo (IEA 2008). Para corrigir esse problema, parte dos produtores passaram a adotar a rastreabilidade agronômica que consiste em disponibilizar ao cliente todos os processos de manejo que o alimento sofreu até chegar ao destino. Essa prática mostrou-se fundamental para abrir ainda mais espaço ao manejo integrado de pragas, gerando maior aceitabilidade por parte do consumidor uma vez que a utilização de inimigos naturais e agroquímicos seletivos difundida gera uma produção mais sustentável.

Devido a problemática supracitada vê-se a necessidade de se integrar as formas já existentes de manejo de pragas para o reestabelecimento do seu controle, esse método proporciona uma melhor administração da resistência de indivíduos, prolongando o efeito dos produtos químicos devido a variação das técnicas assim como a utilização de diferentes mecanismos de ação (EMBRAPA). 

Manejo Integrado de Pragas

O manejo integrado de pragas consiste na integração de diferentes técnicas de controle com intuito de manter o nível populacional de determinada praga abaixo do nível de dano econômico (FAO).  Técnicas essas como: Utilização de produtos químicos, agentes biológicos (predadores, parasitoides e entomopatógenos – fungos, bactérias, vírus), extratos de plantas, melhoramento genético, manejo cultural, e outros. 

Nesse conceito, o indivíduo se torna uma praga quando causa dano econômico a produção, diferentemente do conceito convencional que se delimita a constatação da presença deste em campo (PICANÇO 2010). Por esse fator, o monitoramento passa a ser a chave para o sucesso da técnica. 

Monitoramento

O monitoramento dentro do MIP é considerado um dos alicerces para as tomadas de decisões, ao mesmo tempo vemos a possíbilidade avaliar a eficiência do controle. Para a realização desse, a amostragem será essencial -devendo levar em conta o tamanho da amostra, localização da retirada, assim como a identificação taxonômica da praga (EMBRAPA).

Dentro das possibilidades envolvidas quando realizada determinada avaliação, é possível se deparar com três tipos de situações como mostra a imagem 1: 

NE (Nível de equilíbrio): Densidade populacional aceitável.

NC (Nível de controle): Necessidade de medidas de controle.

NDE (Nível de Dano Econômico): Menor densidade populacional capaz de causar perdas econômicas.  

Avaliação do Nivel de Dano Econômico
Avaliação do Nivel de Dano Econômico

Para se calcular o NDE, deve se dividir o valor da produção da cultura pelo valor da aplicação para determinada praga, colocando isso em porcentagem, como mostra o exemplo abaixo: 

NDE (%) = (Valor da aplicação / Valor da produção da cultura) x 100

Valor da produção da cultura = R$ 2.000;

Valor da aplicação = R$ 200

NDE (%) = (200/2000) x 100 = 10% 

Estratégias de Manejo Integrado de Pragas: 

Controle Químico

O manejo químico é amplamente utilizado, possui eficiência constatada e é uma das táticas que podem ser adotadas dentro do MIP. Quando pensamos na utilização de defensivos químicos no âmbito integrado, é muito importante que a idealização desse seja levando em conta a seletividade, gerando mortalidade da praga sem afetar o meio agroecológico e as populações de inimigos naturais já existentes (COSENZA 1981).

Segundo Cosenza, pode-se seguir alguns padrões a fim de regular a seletividade de defensivos agrícolas caso nao tenha registro específico para determinada praga ou cultura. Tais padrões levam em consideração a dosagem, espaço de aplicação e intervalo entre pulverização, todas essas em conjunto são medidas favoráveis a utilização destes produtos dentro do MIP quando realizadas da maneira correta. 

Controle Biológico: 

O controle biológico dentro do MIP se tornou uma das principais medidas utilizadas. Sua caracterização se dá pela utilização de agentes biológicos de controle, podendo ser estes, ácaros e insetos predadores, parasitoides, fungos, bactérias, vírus e outros. Está prática é uma medida eficaz e altamente segura ao meio ambiente uma vez que muitos agentes de controle são tidos como específicos atacando apenas espécies alvo sem causar danos a cultura, podendo ter seu controle estendido ao decorrer do ciclo produtivo devido reprodução destes em campo. 

Podem ser descritos dois tipos de controle biológico: Controle biológico inundativo e o inoculativo, ambos pertencentes a estratégia aplicada de macro predadores, porém com divergências quanto a quantidade de agentes inoculados. No princípio do controle biológico inoculativo os agentes biológicos são aplicados em quantidades suficientes para efetivar o controle, já no inundativo as doses são maiores para causar um choque populacional ao organismo alvo, sendo este mais utilizado quando a pressão populacional da praga está elevada.

Dentre os exemplos de agentes biológicos produzidos em larga e passíveis de utilização em campo, é possível citar: Ácaros predadores (Phytoseiulus macropilis, Phytoseiulus persimilis, Neoseiulus californicus, Stratiolaelaps scimitus), parasitóides (Cotesia flavipes, Trichogramma galloi, Trichogramma pretiosum, Telenomus podis), Insetos (Orius insidiosus), fungos (Metarhizium anisopiae, Beauveria bassiana, Trichoderma harzianum, Trichoderma asperellum), bactérias (Bacillus amyloliquefaciens, bacillus thuringiensis, Bacillus subtilis ), vírus (Baculovírus).

Controle Cultural:

Nessa estratégia, são realizados manejos físicos com intuito de dificultar a disponibilidade de alimento para a praga alvo, ou de reduzir a incidência desta em campo. São medidas como rotação de culturas, destruição de restos culturais, eliminação de hospedeiros, variação de época de plantio, alternância de local de plantio e outros. 

Exemplo prático

MIP na cultura do milho (Estudo de caso): 

Como exemplo de MIP na cultura do milho temos que levar em conta o estádio de desenvolvimento da cultivar e suas respectivas pragas mais comuns, dessa forma estabelecemos um calendário, sendo realizado o monitoramento em cada fase de acordo com as exigências de controle como mostra a imagem 2. A partir disso constatado o nível de controle (NC), é iniciado o manejo que mais se adequa as características da propriedade e da cultura. Sempre levando em consideração a utilização de agroquímicos seletivos, manutenção dos inimigos naturais já presentes em campo e outras táticas que possam ser úteis dentro do manejo. 

fases adequadas para monitoramento de cada praga
fases adequadas para monitoramento de cada praga
PragaNível de Controle
Larva-arame2 larvas por amostra
Lagarta-rosca3% de plantas atacadas
Lagarta-elasmo3% de plantas atacadas
Larva-alfinete30% de desfolha
Lagarta do cartuchoAté 30 dias após emergência 20% de folhas raspadas, 40-60 dias 10% de folhas raspadas.
lagarta da espiga2 lagartas/m
Percevejos1 percevejo/10 plantas

O manejo integrado na cultura do milho passou a ter maior importância nos últimos anos, devido ao aumento do número de aplicações de inseticidas, porém mantendo elevado o índice de ataque da Spodoptera frugíperda (Smith) (CRUZ).

Dentro desse estudo de caso, supondo que o tratamento de sementes foi realizado com inseticida sistêmico e que seja constata a necessidade de controle da lagarta do cartucho após 20% de folhas raspadas até os 30 dias de emergência, uma das alternativas primárias seria a utilização do Baculovírus Spodoptera que possui eficiência comprovada,  sendo perfeito para estádios vegetativos iniciais já que utilizaria pouco produto para cobrir a área em questão sendo possível realizar através de pulverização um boa cobertura foliar.  Devido ao modo de ação do vírus, o momento de aplicação é importante, devendo o aplicador se atentar ao fato que a contaminação se dá pela ingestão de conteúdo foliar contaminado e por isso aplicação com orvalho presente no cartucho se torna uma excelente opção. 

Conclusão:

Existem diversas estratégias de controle que podem ser utilizadas com intuito de reduzir a pressão de pragas, sendo a integração de duas ou mais técnicas favorável ao agroecossistema por reduzir a densidade populacional do organismo maléfico assim como regular a resistência a moléculas químicas, promover agregação de valor ao produto, gerar equilíbrio ecológico e com isso redução de custos. 

Vimos neste texto que as opções de controle, podem ser utilizadas para o controle de pragas extremamente eficientes e que podem ser utilizadas com muita assertividade no dia a dia do campo.

Elaboração do artigo: Guilherme de Mello Silva, Equipe Agrotécnico , Engenheiro Agrônomo pelo Centro Adventista de São Paulo, atualmente no Centro de Inovação Tecnológica da Fertiláqua.

Gostou do texto? Tem mais dicas sobre MIP? Adoraria ver o seu comentário abaixo!

Referências.

Consenza Gilson. O controle integrado de pragas.

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